::O espelho da pequena Londres
Não me lembro ao certo quando o meu otimismo em relação a cidade se perdeu, e também não sei ao certo se ele existiu, as cidades grandes exercem um mal pertubador sobre o consumo de existência humana e isso se agrava quanto mais velho você é, São Paulo parece que não era tão grande assim quando eu morava lá e todas as opções eram tão distantes quanto a distância que eu estou de lá nesse momento, na verdade era meu tamanho que é reduzido, vim parar aqui por um acaso que era conhecido por mim há tempos, então nem sei se dá pra considerar acaso, a minha vida lá era uma verdadeira bagunça cheia de caminhos desconexos, na verdade é normal nada fazer sentido quando se tem 14 anos, eu tinha uma banda que tinha um baterista e um baixista fantasma, eu não sabia tocar direito mas eu achava divertido, eu me assustei e quase reprovei em geometria pelo 3º ano consecutivo, na verdade isso nem me importava mais, meu melhor amigo tinha repetido de novo e mudou de escola e de vida, pra ele vieram os cigarros, as garotas, goles de alcool e outras drogas que começavam a aparecer, eu me isolei e dramatizei tudo escrevi um roteiro novo, como um doente terminal que queria viver até a ultima gota, "eu vou embora mesmo" virou combústivel, e eu me iludia por que quando eu fosse fazer faculdade eu ia voltar pra lá, e tudo ia continuar da onde parou, naquela época 1 ano era muito tempo... Depois da reclusão inicial e da ficha cair eu quis buscar novos amigos, tentei estar em todos os lugares ao mesmo tempo, quis me enxer de tudo pra fingir que não iria me sentir vazio. Vim parar aqui e eu ainda era otimista e podia dizer pra todo mundo que eu vinha de uma cidade grande e que eu era foda por causa disso, na verdade isso me fazia tão cretino quanto qualquer um daqui ou de qualquer outro lugar que fosse, e que muitas vezes não importa da onde você vem, mas para onde você vai com o que você é, e as vezes nós ficamos batendo a cabeça querendo que os espaços se modifiquem com as nossa reclamações quando na verdade são os nossos olhos que tem que mudar a maneira de ver, é questão de sobrevivência, para o ser humano o melhor lugar sempre vai ser o próximo, talvez por isso não me afete muito o fato da cidade morrer aos poucos, fica pra mim as boas lembranças das coisas engraçadas e legais que eu vivi aqui, que venha Curitiba, Joinville, Florianópolis ou São Paulo de novo por que todo lugar é lugar independete da adaptação ou não, a maneira de intervir nele já o transforma e eu sei qeu cada lugar novo vai ter um cheiro novo, uma sensação nova, que vai me causar desconforto, insegurança, medo, mas que com o tempo vai se tornando a minha linha, onde eu me apego, tudo que é novo mesmo quando é desejado assusta... E eu sinto saudade é só da história do lugar, não do lugar como é hoje e nem da lembrança que eu tenho dele, eu sinto saudade é da imagem que eu tenho do lugar vazio pra mim, seja na esquina de uma cidade grande que me engole, ou nas ruas de uma cidade do interior agrícola, ou no estacionamento de um supermercado de uma cidade que me trás calma mas nenhuma esperança, ou no centro de uma cidade onde todos os dias parecem ser cinzas, longe ou perto, com meus pais ou não... E talvez me aperte mais por eu saber que tá quase na hora de eu sair de casa, é como se todo mundo soubesse disso sem saber, faz parte do processo e se você parar pra olhar se torna doloroso, mas ainda tem técnicamente dois anos pra isso, ter a minha casa, o meu próprio banheiro e o meu próprio nariz empinado pra reclamar que não morar com os pais é ruim mesmo sendo tudo o que eu quis, mas antes preciso aprender a não falir tanto e não entrar em colapso nervoso por coisa nenhuma que essas habilidades que eu desenvolvi não fazem nada bem pra mim e nem pra minha futura companheira de casa...
#Nirvana - Breed

0 Comments:
Postar um comentário
<< Home